quarta-feira, 28 de abril de 2010

capitulo 2

— Ah! – gritei meio asfixiada quando ele saltou sobre mim e caímos rolando.
Bati com as costas e ele me esmagou contra o chão com seu peso e suas pernas,
entrelaçadas com as minhas. Tampou minha boca com uma mão, mas eu consegui
libertar um braço. Nas aulas de autodefesa do meu antigo colégio, sempre dizia que tinha
que ir direto aos olhos, que tinha que golpeá-los, sem contemplações. Nunca tive dúvida
de poder fazê-lo quando tivesse na ocasião, já que seria para me colocar a salvo ou para
ajudar outra pessoa, mas estava tão apavorada que não sabia se poderia fazê-lo. Dobrei os
dedos, numa tentativa de me armar de algum valor.
— Você viu quem te seguia? – Sussurrou o sujeito nesse momento.
O olhei fixamente por alguns instantes. Ele retirou a mão da minha boca para que eu
pudesse responder. Minha cabeça pesava muito e tudo estava dando voltas.
— Está se referindo além de você? – Consegui dizer finalmente.
— De mim? – Ele nem tinha idéia do que eu estava falando. O sujeito lançou um
olhar furtivo por suas costas, como se continuasse na defensiva. – Você estava correndo
porque alguém estava te perseguindo... Não?
— Eu só corria. O único que me perseguia era você.
— Quer dizer que achava que... – O cara se separou de mim imediatamente para
que eu pudesse me mover. – Ah, ok, sinto muito. Não era minha intenção... Cara, devo
ter te dado um susto de morte.
— Então, sua intenção era me ajudar?
Tive que dizer em voz alta antes de conseguir acreditar. Ele assentiu vigorosamente
com a cabeça. Estava com o rosto muito próximo ao meu, perto demais, o que impedia de
ver outra coisa. Era como somente existíssemos nós dois e a névoa que se espessava ao
nosso redor.
— Sei que devo ter te assustado e sinto muito mesmo. Achava que...
Suas palavras não estavam servindo de grande ajuda. Estava cada vez mais irritada,
não menos. Precisava de ar e me tranqüilizar, entretanto isso era algo impossível com ele
tão perto de mim. Fiz um sinal com um dedo e disse algo que não creio ter falado a muita
gente, muito menos a um estranho, e muito menos ainda ao estranho que mais tinha me
aterrorizado na minha vida:
— Você... você quer... calar a boca?
Ele se calou.
Deixei cair minha cabeça contra o chão, soltando um suspiro. Levei as mãos nos
olhos e os apertei até ver tudo vermelho. Eu ainda tinha o gosto do sangue na boca e o
coração batia com tanta força que era como se meu peito estremecesse. Mais um pouco e
eu me mijava, talvez a única coisa que faltou para que aquela situação fosse mais
humilhante do que já era por si. No entanto, me limitei a respirar fundo, pouco a pouco,
até que me senti com forças para me recompor.
O cara continuava do meu lado.
— Por que me atirou no chão? – Consegui perguntar.
— Pensei que tínhamos que nos proteger e nos esconder de quem a estava
perseguindo, que no final se revelou ser, este... ninguém.
Ele parecia bem envergonhado.
Abaixou a cabeça e o olhei com tranqüilidade pela primeira vez. A verdade é que eu
não tinha tido tempo de me fixar em nada: quando a primeira coisa que pensa de alguém
é que ele é um "assassino pirado", você não analisa os detalhes. Dei-me conta que não se
tratava se um homem adulto, como eu tinha achado. Ainda que fosse alto e tivesse costas
largas, era jovem, talvez da mesma idade que eu. A corrida tinha-lhe alvoroçado o cabelo,
liso e preto, que caía na testa ocultando os olhos castanhos incrivelmente
escuros. Tinha a mandíbula forte e angulosa, e o corpo musculoso e robusto.
No entanto, o mais surpreendente de tudo era o que levava sob o casaco preto: botas
pretas, bastante surradas, calças pretas de lã e um suéter vermelho escuro de gola V,
estampado com um brasão: Dois corvos bordados de cada lado de uma espada prateada.
O escudo da Meia Noite.
— Você é aluno da escola. – eu disse.
— Bem, vou ser. – respondeu em voz baixa, como se temesse voltar a me assustar.
– E você?
Assenti com a cabeça enquanto desfazia o coque para refazê-lo.
— É o meu primeiro ano. Meus pais encontraram trabalho de professores, assim
que... me toca passar pelo aro.
Ele pareceu se surpreender, pois franziu o cenho. De repente seu olhar se voltou
mais inquieto e inseguro, porém se recompôs em seguida e me estendeu a mão.
— Joe Jonas
— Olá. – Me sentia estranha em me apresentar a alguém que há cinco minutos eu
achava que queria me matar. – Demi Lovato.
— Seu coração está a mil por hora. – murmurou Joe. Voltou a me olhar com
olhos inquisidores e fiquei nervosa, ainda que por motivos diferentes. – Ok, se não corria
por que tinha alguém te perseguindo, então porque corria daquela forma? Por que a mim
não pareceu que você estava dando no pé exatamente.
Eu teria mentido se me tivesse ocorrido uma desculpa cabível, mas não me ocorreu.
— Levantei de madrugada para... Bem, para fugir.
— Seus pais não te tratam bem? Eles te batem?
— Não! Não é isso. – Me senti muito ofendida, mas entendi que era lógico que
Joe deduzisse algo do tipo. Porque alguém em seu perfeito juízo entraria no bosque
antes de nascer o sol e disparar a correr como se a vida dependesse disso? Acabávamos
de nos conhecer, portanto Joe talvez pensasse que estava falando com uma pessoa sã.
Decidi não mencionar o pesadelo recorrente, pois isso pesou na balança para o lado
"louco". – É que eu não quero ir para essa escola. Eu gostava da minha cidade e, além do
mais, a Academia Meia Noite é... É tão...
— Faz com que arrepiem seus cabelos.
— Isso.
— Aonde você ia? Encontrou um trabalho em algum lugar por aí ou algo assim?
Eu estava corada e não era só pelo esforço físico da corrida.
— Ah, não. Na realidade eu não estava fugindo de verdade, só estava levando o
cabo uma... declaração de princípios, ou algo assim. Pensei que fizesse alguma coisa
desse tipo, meus pais finalmente entenderiam o quanto detesto estar aqui e talvez
fossemos embora.
Joe me olhou incrédulo e então sorriu. Seu sorriso transformou a estranha energia
que tinha se acumulado dentro de mim e transformou o medo em curiosidade, até mesmo
em entusiasmo.
— Como eu com o estilingue.
— O quê?
— Quando eu tinha cinco anos, pensei que meus pais estavam sendo injustos
comigo e decidi ir embora de casa. Levei o estilingue comigo porque já era todo um
machão, se me endente e eu era capaz de cuidar de mim mesmo. Acho que também levei
uma lanterna e um pacote de Oreo.
Apesar do aturdimento, me escapou um sorriso.
— Acho que estava mais preparado do que eu.
— Saí muito digno da casa em que vivíamos e cheguei até... o final do quintal dos
fundos, então resolvi resistir ali mesmo. Fiquei lá fora o dia todo, até que começou a
chover. Eu não tinha me lembrado de pegar um guarda-chuva.
— Um maravilhoso plano. – Suspirei.
— Eu sei, é patético. Voltei para casa, com dor de estomago e entupido depois de
ter comido uns vinte Oreos, e minha mãe, uma senhora muito inteligente ainda que me
deixe furioso, fingiu que nada tinha acontecido. – Joe deu de ombros. – Os seus pais
farão o mesmo. Sabe disso, certo?
— Agora sei.
Estava tão decepcionada que um nó se formou em minha garganta. Na verdade eu
sabia desde o início como aquilo ia terminar, mas não podia ficar de braços cruzados;
talvez eu só o tenha feito para deixar claro minha frustração antes de enviar uma
mensagem aos meus pais.

Um comentário:

  1. nooossa!!! Ta mtoo perfeitoo!!
    posta looogoo,loogoo,looogoo!!
    beijoos!!
    *-*

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