— Bem vindos à Meia Noite. – disse, abrindo as mãos em um gesto de acolhida. Ela
tinha unhas grandes e translúcidas. – Alguns de vocês já estiveram aqui antes. Outros já
ouviram falar da Academia Meia Noite durante anos, talvez as suas famílias, e vocês se
perguntaram se algum dia entrariam em nossa escola. Este ano, aliás, contamos com um
novo tipo de estudantes, resultados de uma mudança na política de admissão.
Acreditamos que há chegado o momento de que nossos alunos conheçam um leque maior
de pessoas de origens variadas e, deste modo, prepará-los melhor para o mundo que os
esperam do outro lado das paredes de nossa instituição. Todos nós temos muito que
aprender desses outros estudantes, e estou certa que os tratarão com o respeito que
merecem.
Para o caso, poderiam ter pintado com spray vermelho em gigantescas letras:
ALGUNS DE VOCÊS NÃO SE ENCAIXAM AQUI. A "nova política de admissão" era,
sem dúvida, a responsável da presença do surfista e da garota do cabelo curto. Pelo visto,
nem se quer os consideravam "verdadeiros" alunos da Meia Noite, sendo que
representavam unicamente uma experiência educativa para os alunos "legítimos".
Eu não fazia parte da nova política. Se não fossem por meus pais, não estaria ali.
Em outras palavras: nem sequer era suficientemente diferente deles para me
considerarem um dos marginalizados.
— Em Meia Noite não tratamos nossos alunos como se fossem crianças. – A
senhora Darbus não se dirigia a ninguém especificamente, mas parecia se limitar a
observar por cima de todos com uma espécie de olhar distante que, no entanto, abrangia a
tudo o que entrava em seu campo de visão. – Eles têm vindo para aprender a se
comportar como adultos do século XXI, e assim é como se espera que se comportem. No
entanto, isso não significa que Meia Noite careça de normas. A posição que ocupamos
nos exige manter a mais estrita das disciplinas. Esperamos muito de vocês.
Não mencionou quais seriam as repercussões no caso de quebrarem as regras, mas
eu temia que os castigos só fossem o aperitivo.
Minhas mãos suavam. Estava cada vez mais corada e tinha a impressão que
chamava a atenção como um sinalizador. Eu tinha me prometido ser forte e não permitir
que as pessoas me intimidassem, mas palavras os ventos levam. Os altos tetos e as
paredes do grande saguão, parecia se fechar sobre mim. Inclusive senti que começava a
ficar sem ar.
Minha mãe conseguiu chamar minha atenção sem me fazer nenhum gesto nem me
chamar pelo nome, como costumam fazer as mães. Meus pais estavam em uma das
extremidades da fila de professores esperando para que os apresentassem e ambos
sorriram para mim com confiança. Eles queriam ver-me desfrutar do momento.
A infundada esperança foi o que sobrecarregou o copo. Já era suficientemente duro
ter que lutar contra o medo, para por cima me ver obrigada a enfrentar a sua decepção.
— As aulas começarão amanhã. – concluiu senhora Darbus – Por hoje, instalemse
em seus quartos, apresentem-se a seus colegas, passeiem pelas instalações. Contamos
com que estejam preparados. É um prazer tê-los aqui e esperamos que vocês saibam
aproveitar sua estadia em Meia Noite.
A sala irrompeu em aplausos e a senhora Darbus os agradeceu com um ligeiro
sorriso e uma caída de olhos, um piscar lento e satisfeito, como o de um gato bem
alimentado. Em seguida, o sussurro generalizado voltou a se impor na sala, mais violento
do que antes. Só tinha uma pessoa com que eu desejava falar e estava claro que essa
poderia ser a única pessoa que talvez se interessasse em falar comigo.
Rodeei toda a sala mantendo as costas sempre pressas à parede. O procurei entre a
multidão com desesperação, ansiando um vislumbre da faísca de cabelo castanho escuro de Joe, suas largas costas ou seus olhos verdes escuros. Se eu o procurava e
ele estivesse me procurando, cedo ou tarde teríamos que nos encontrar. Apesar do pânico
que me provocavam as massificações de pessoas, e minha tendência de exagerá-las, sabia
que só tinha uns duzentos alunos naquele lugar.
Disse a mim mesma que Joe se sobressairia, que não era como os outros: frio,
pedante e vaidoso. No entanto, em seguida compreendi o quão enganada eu estava. Joe
não era pedante, mas compartilhava o mesmo aspecto: traços belos e definidos, o mesmo
corpo de perfeitas proporções e a mesma... em fim, a mesma perfeição. Não se destacaria
demais no meio daquelas pessoas tão perfeitas porque na verdade ele fazia parte delas.
Diferente de mim.
À medida que os professores e alunos se dispersavam, a multidão foi gradualmente
diminuindo. Fiquei vagando por lá até que fui quase a única que ficou no grande saguão.
Eu estava convencida que Joe viria me procurar. Ele sabia o quão assustada eu estava e
se sentia responsável por ter me assustado ainda mais. Será que ele nem se quer queria
me cumprimentar?
No entanto, ele não apareceu. No final tive que aceitar que o tinha julgado mal e
isso significava que não tinha mais remédio a não ser ir conhecer minha colega de quarto.
Subi os degraus de pedra lentamente. Meus sapatos novos de solas duras repicavam
contra o chão e meus passos ressoavam com grande escândalo. O que eu tinha desejado
era continuar subindo até o último andar e ir diretamente para o apartamento dos meus
pais, mas sabia que me iriam me enviar escada a baixo imediatamente assim que eu
abrisse a porta. Eu tinha tempo de sobra para pegar minhas coisas e me mudar
definitivamente depois de comer. No momento a prioridade era “me instalar”.
Tentei olhar pelo lado positivo. Talvez a escola tivesse intimidado minha colega de
quarto tanto quanto a mim. Certamente as coisas seriam mais simples se eu convivesse
com outra "marginalizada". Ia ser uma tortura ter que viver com uma estranha, me ver
obrigada a compartilhar o mesmo espaço com alguém a quem eu não conhecia, inclusive
de noite, ainda que eu esperava que isso acabaria passando. Nem nos meus melhores
sonhos imaginava fazer amizade com ninguém.
No formulário dizia "Miley Ray Cyrus”. Tentei relacionar o nome com a garota
que lembrava, mas ela não batia com ele, mas quem poderia saber?
Abri a porta e descobri, com a alma nos pés, que o nome de minha colega lhe servia
como um anel no dedo. Não era nenhuma marginal. Na verdade era a mesma
personificação do protótipo da Meia Noite.
A pele de Miley tinha a tonalidade de um rio ao amanhecer, uma pele excelentemente torrada e suave, e tinha o cabelo encaracolado preso em um coque frouxo
que deixava à vista seus brincos de pérolas e um esbelto pescoço. Estava sentada diante
da penteadeira e me olhou enquanto ordenava cuidadosamente seus vidros de esmaltes.
— Então você é Demi – disse. Nem apertos de mão, nem abraços, somente o
tilintar dos esmaltes contra a penteadeira: rosa pálido, coral, melão, branco – Você não é
como eu esperava.
Muito obrigada.
— Eu digo o mesmo.
Miley inclinou a cabeça e me esquadrinhou com o olhar. Perguntei-me se já nos
odiávamos. Levantou uma mão com manicura perfeita e começou a deixar claro vários
pontos contando com os dedos.
posta logoo!!
ResponderExcluirta perfeitoo!!
beijoos!!
*-*
posta logoo!!!
ResponderExcluireu amoo sua fic!!!
já faz mto tempo q vc não posta!!
to ficando triste! :(
só mais uma coisa:
POSTAAAAAAAAAA!!!
hihi...
beijoos!
;)
posta logo*')
ResponderExcluirta perfeito
tem muito tempo que nao posta
mas pf posta logo
ta d+
please
postaaaa